Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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Salmo 92 - A Maravilha do Tempo de Adoração a Deus

 

Certo viajante, passando pelo lago Léman, na fronteira entre a França e a Suíça, se viu absorto na admiração do belo panorama que tinha diante de si. A beleza do Sol se pondo e das luzes a se desfazer nos céus do ocidente era fantástica. Entretanto, o surpreendente ocorreu quinze minutos depois de o Sol se pôr. O companheiro desse viajante, apontando o lado oposto, exclamou: “Olhe para o Leste! O que é aquela luz estranha?”. Eles olharam para a luz que brilhava e, maravilhados, perceberam se tratar do Mont Blanc. Ele é tão alto que o Sol, mesmo já posto do ponto de vista dos viajantes, ainda iluminava seu topo branco em que a neve refletia os raios solares em um espetáculo sem igual. O impressionante é que, apesar da majestade daquela cadeia montanhosa e daqueles cumes que se erguiam como que buscando os céus, ele só foi visto depois do pôr do Sol. O momento certo promoveu uma das visões mais belas e impressionantes que aqueles homens já tiveram.

O Salmo 92 também trata de um tempo especial em que se podem vislumbrar certas realidades que, por vezes, passam despercebidas diante dos afazeres do dia a dia. Seu título, dado pelo próprio salmista, contém o propósito da sua composição: “Cântico para o dia de sábado” (shîr leyôm hashavvat). Como, no antigo Israel, o sábado não era apenas tempo de “descanso solene”, mas também de “santa convocação” (Sl 23.3), entende-se que o salmo foi escrito com a finalidade de ser utilizado no culto a Deus. Segundo esse propósito, o salmista produziu um texto realmente útil, pois destaca certos pontos que podem passar despercebidos diante das muitas preocupações diárias, mas que não podem ser menosprezados quando se está a cultuar o Senhor. Assim, o salmista apresenta quatro promoções do tempo de culto a Deus.

Em primeiro lugar, o culto ao Senhor deve promover louvor e anúncio das grandezas de Deus (vv.1-5). Apesar de isso parecer óbvio, muitas vezes o verdadeiro sentido do louvor perde espaço para as atividades religiosas em si – em Israel, isso aconteceu com frequência, a exemplo do que expõe o livro de Malaquias. Em vez disso, o salmista parece realmente satisfeito com a oportunidade de se envolver pessoalmente no louvor a Deus (v.1): “Bons são os atos de exaltar o Senhor e de cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo” (tôv lehodôt layhwâ ûlezammer leshimka ‘elyôn). Contudo, esse louvor não é oferecido a um Deus impessoal com quem o salmista não se identifica. Pelo contrário, há um relacionamento baseado na bondade de Deus para com os seus, pelo que o escritor apresenta louvores anunciando os feitos divinos (v.2), dizendo também ser bom o ato de “anunciar de manhã a tua lealdade e de noite a tua fidelidade” (lehaggîd bavvoqer hasdeka we’emûnateka ballêlôt), fazendo-o com dedicação e esmero (v.3). O ânimo com que a adoração deve ser oferecida deve ser compatível com o ânimo resultante da bondade de Deus sobre os adoradores, de modo que, tendo isso em mente, dificilmente haverá frieza e desinteresse no culto ao Senhor (v.4): “Visto que me alegraste com teus feitos, ó Senhor, eu aclamarei as obras das tuas mãos” (kî simmahtanî yhwh befa‘oleka bem‘asê yadeyka ’arannen). Nesse sentido, o louvor a Deus é oferecido não apenas pelo que ele faz, mas pela sabedoria dos seus propósitos, ainda que misteriosos para os homens (v.5): “Os seus desígnios são muito profundos!” (me’od ‘omqû mahshevoteyka). A mesma palavra traduzida aqui como “desígnios” – literalmente, “pensamentos” – aparece em Isaías 55.8,9 completando a ideia.

Em segundo lugar, o culto ao Senhor deve promover repúdio pelo modo de vida dos incrédulos (vv.6-9). Se o salmista contempla a grandiosidade dos propósitos e da soberania divina, tais maravilhas passam despercebidas aos olhos dos incrédulos (v.6): “O ignorante não entende e o tolo não compreende isso” (’îsh-ba‘ar lo’ yeda‘ ûkesîl lo’-yavîn ’et-zo’t). Ao dizer “isso”, não fica claro se ele se refere ao que está exposto no versículo anterior ou posterior. Entretanto, a compreensão do texto aponta para as duas realidades, pois o tolo, em lugar de se curvar perante o Senhor do universo, cujos propósitos são maravilhosos, arrogantemente ignora o fato de que sua força é frágil diante do Deus forte e que sua existência é breve diante do Deus eterno (v.7): “Quando os ímpios brotam como uma relva e florescem todos aqueles que fazem o mal, [isso ocorre] para que sejam exterminados definitivamente” (bifroah resa‘îm kemô ‘esev wayyatsîtsû kol-po‘alê ’awen lehishomdam ‘adê-‘ad) – o prévio desígnio de Deus de punir os ímpios está presente nesse quadro. Com isso, o escritor demonstra não ter qualquer inveja da condição dos rebeldes, cujo ocaso ele antepõe à eternidade do Deus a quem adora (vv.8,9). Diante disso, o salmista parece não ter melhores palavras para se referir ao pecador incrédulo do que “ignorante” (’îsh-ba‘ar) e “tolo” (kesîl).

Em terceiro lugar, o culto ao Senhor deve promover reflexão sobre a condição benéfica dos salvos (vv.10,11). Nesse ponto, o salmista anônimo começa a se parecer com um rei. Ele diz (v.10): “Eu me banhei com óleo fresco” (ballotî beshemen ra‘anan). Apesar de as pessoas da época se ungirem para se embelezar (Rt 3.3; Sl 104.15), essa não parece ser a ênfase aqui. É provável que ele se refira ao ato ritual de ungir que servia para empossar reis, sacerdotes e profetas (Ex 28.41; 1Sm 16.1,12-13; 1Rs 19.16). Mesmo com o uso relativamente amplo da unção, a primeira parte do versículo favorece a figura de um rei, visto se referir à ação de Deus sobre o escritor no sentido de lhe fazer subir “o chifre” – figura de linguagem comumente utilizada para fazer menção ao poderio militar: “Mas tu levantas o meu chifre como um touro selvagem” (wattarem kir’êm qarnî). O salmista parece trazer à luz a ação de Deus de conceder-lhe sucesso militar sobre o inimigo desferindo um duro golpe, assim como um touro que, ao levantar seu chifre, golpeia e atinge sua vítima com violência. Desse modo, o cuidado e a ação benéfica do Senhor dos exércitos fazem com que o escritor do salmo tenha plena confiança, mesmo diante dos homens que se levantam contra ele, pelo que os olha e os ouve de frente, sem fugir nem desviar (v.11): “Meu olho se fixa em meus inimigos quando se levantam contra mim. Meus ouvidos ouvem os malfeitores” (wattavvet ‘ênî beshûreray baqqamîm ‘alay mere‘îm tishma‘nâ ’oznay). Para ele, esse é, sem dúvida, um dos motivos da adoração no culto a Deus.

Por fim, o culto ao Senhor deve promover esperança para o que ainda está por vir (vv.12-15). Um elemento importante no culto a Deus prestado pelo salmista é a convicção do futuro que aguarda aqueles a quem o Senhor ama e protege. Se, por um lado, o ímpio será “exterminado” (v.7), o justo será fortalecido de tal modo que é comparado a árvores belas, produtivas, frondosas e valiosas (v.12): “O justo florescerá como a tamareira e crescerá como o cedro o Líbano” (tsaddîq kattamat yifrâ ke’erez ballevanôn yisgeh). A figura arbórea continua no versículo seguinte e associa o crescimento do justo à ligação íntima e fundamental com o Senhor (v.13): “Plantados na casa do Senhor, eles florescerão nos átrios do nosso Deus” (shetûlîm bevêt yhwh behatsrôt ’elohênû yafrîhû). É claro que a ideia de estar na casa do Senhor não indica apenas benefício para o servo, como também seu compromisso de aprender e se santificar a fim de glorificar o Deus santo. Mediante essa sintonia entre o adorador e o adorado, a lealdade e a fidelidade de Deus, qualidades frequentemente exaltadas nos salmos, fariam com que os benefícios dessa ligação estreita perdurassem (v.14): “Eles ainda darão fruto na velhice. Serão frondosos e vigorosos” (‘ôd yenûvûn besêvâ deshenîm wera‘anannîm yihyû). Isso faz com que o justo, além de louvar a Deus no presente, pela esperança firme que tem, venha a glorificá-lo no futuro em lugar de, ingratamente, viver se queixando que o tempo passou e que os dias não são os mesmos (v.15): “Para anunciar que reto é o Senhor, minha rocha, e [que] nele não há injustiça” (lehaggîd kî-yashar yhwh tsûrî welo’-‘olatâ bô).

Ao mesmo tempo que é maravilhoso ver tudo que envolve o verdadeiro louvor a Deus, nota-se com muita ênfase a importância do tempo separado para o culto do Senhor. É certo que nos nossos dias esses valores têm sido negligenciados sob desculpas de que a igreja é cheia de falhas, de que os tempos mudaram e de que ler a Bíblia em casa basta. Isso não é verdade! É sempre preciso separar tempo em que se reflita sobre as grandezas de Deus, que se aprenda da sua Palavra e que se apresente o devido louvor anunciando a graça e o amor de Deus sobre seu povo. Por outro lado, vemos muitos cultos que se parecem com tudo, menos com um culto, em que a irreverência, a desordem, a autoafirmação, a usurpação da soberania divina e a introdução de heresias destruidoras tomam o lugar dos valores encarecidos por esse salmista. Isso não é correto! O tempo de adoração a Deus deve ser dirigido pela orientação do Senhor e devem concordar com seu caráter santo. Somente quando os crentes entendem seu lugar na relação com Pai e compreendem o que, em Deus, é digno de admiração, louvor e glória é que podem de fato cumprir sua função como adoradores, têm o privilégio de proclamar a maior mensagem da história e sentem a mesma alegria que o escritor do Salmo 92 sentia ao exaltar o Senhor. Eles, então, conhecem o significado profundo de bradar a Deus: “Bons são os atos de exaltar o Senhor e de cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo”.

Pr. Thomas Tronco

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