Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Há Lugar para ‘Orgulho Santo’ na Igreja?

Pastoral

Certa vez, um líder religioso apresentou sua igreja como um modelo a ser seguido por todas as demais. Segundo ele, sua incomparável igreja despontava de tal forma que deveria ser respeitada e imitada por suas irmãs espalhadas pelo mundo. Um dos resultados de tal pensamento era manifesto no momento em que ele apresentava sua instituição como a única igreja da sua denominação naquela cidade – quando, na verdade, havia mais que uma. Outro pastor, ao ouvir tais afirmações e perceber o inerente desprezo pelas demais igrejas, o desconhecimento do caráter universal do corpo de Cristo e a desconsideração da atuação do Espírito Santo no povo de Deus ao redor do mundo, perguntou ao líder religioso: “Existe alguma igreja que supere a sua em algum ponto?”. A surpreendente resposta veio depois de algum tempo de reflexão: “Não!”.

Diante desse quadro surreal, temos de nos perguntar se esse tipo de orgulho – ou qualquer outro tipo – pode encontrar morada no seio das nossas igrejas sob quaisquer títulos que possamos lhe dar. Paulo, nesse sentido, oferece uma instrução bem clara e contundente: “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva” (1Co 10.17,18). Infelizmente, essa ordem é frequentemente ignorada a fim de produzir personalidades, artistas e “papas” no lugar de servos de Deus humildes e abnegados. Por isso, as Escrituras nos alertam para os riscos do orgulho no meio do povo de Deus.

O primeiro risco do orgulho é criar partidarismo eclesiástico: “Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (1Co 3.21-23). O que Paulo trata aqui é o partidarismo dos crentes de Corinto ao escolher um ou outro líder (1Co 1.12; 3.4-6), produzindo divisão no meio do corpo, ruptura do amor entre os irmãos e mau testemunho na comunidade, revelando, com isso, pura carnalidade e ausência de crescimento (1Co 3.1-4). Ironicamente, a razão do orgulho era justamente o atestado de que não havia do que se orgulhar, mas do que se envergonhar.

O segundo risco é ignorar as consequências da soberba: “Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder” (1Co 4.18-20). Paulo diz que os soberbos de Corinto agiam como se não devessem explicação a ninguém, como se seus desatinos não pudessem ser contestados ou reprovados por outros e como se tivessem poder para ditar os rumos da sua vida independente de Deus ou do seu povo santo. Mas isso não era verdade, pois havia quem, dirigido pelo Espírito Santo que atua na igreja, pudesse se levantar contra o erro e reprová-lo, além de ficar claro que a força que os soberbos achavam que tinham era apenas imaginária.

O terceiro risco é abandonar a pureza e a santidade: “Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” (1Co 5.6). Essa dura reprimenda foi dada aos coríntios por haver em seu meio um pecado grotesco até mesmo para os incrédulos (1Co 5.1). Apesar disso, a igreja não se importou em promover a disciplina, nem a chorar pelo desvio dos seus: “E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?” (1Co 5.2). É chocante ver como a soberba faz com que alguém se orgulhe daquilo pelo qual deveria se envergonhar e ignore as orientações santas do Senhor como se pudessem, com métodos pessoais, criar um modo de administrar a igreja melhor que aquilo que Deus concebeu e revelou.

O quarto risco do orgulho no meio do povo de Deus é recusar-se a depender do Senhor: “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna” (Tg 4.15,16). Quem se julga autossuficiente não tem porque buscar em Deus a direção para seus caminhos, nem o poder para as realizações. Ele acredita que sua capacidade pessoal é suficiente para efetivar seus próprios planos e propósitos. É claro que, diante dos seus feitos, o orgulhoso não vai render a Deus sua devida glória, mas se apresentará como o responsável capaz que abençoa a igreja com sua presença e que fornece a Deus o material humano sem o qual ele não pode realizar sua vontade. Por isso mesmo, Tiago diz: “Toda jactância semelhante a essa é maligna” (Tg 4.16b).

Temos de ser levados a uma séria reflexão sobre o nosso lugar no plano de Deus e sobre o papel do Espírito Santo no meio da igreja para, munidos de santa humildade, cumprir o que nos cabe como adoradores do único que merece louvor. Que haja entre nós consciência de unidade do povo de Deus, comprado por Cristo! Que seja abandonada definitivamente a atitude irreverente de chamar a soberba eclesiástica de “orgulho santo”! Que Deus acorde e levante seus servos adormecidos nas igrejas para que a purifiquem de razões e motivações que não sejam a glória singular e verdadeira de Deus! Que o nosso lema seja aquele que Paulo apresentou aos romanos: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12.3).

Pr. Thomas Tronco

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