Sábado, 20 de Abril de 2024
   
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Amigos por Interesse?

Pastoral

Certa vez, quando ainda era presidente da França, o general Charles De Gaulle disse: “Nós não temos amigos; nós temos interesses”. O que ele tinha em mente ao dizer essa frase é que o relacionamento da França com as outras nações era decidido e dirigido por “interesses”. As vantagens e desvantagens comerciais definiam quem era e quem não era amigo da França.

Esse modo de ver a vida e os relacionamentos deve fazer sentido nos tratados comerciais ao redor do mundo e nos acordos entre nações. Mas, será que deve, também, dirigir os relacionamentos dos crentes em Cristo, irmãos por meio da fé e do sacrifício do Senhor Jesus? Será, ainda, que esse deve ser o método de decisão sobre como será o tratamento dos pastores para com suas ovelhas e das ovelhas para com seus pastores? Ou entre as denominações? As entidades cuja tarefa é expandir do reino de Deus na Terra devem, também, pensar assim? São mesmo os “interesses pessoais” que devem definir quem é e quem não é amigo dentro do Corpo de Cristo?

Olhando para as Escrituras, essa ideia parece ser estranha a Cristo e aos escritores bíblicos. O apóstolo João diz: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). Quando nem sequer amávamos a Deus, quando ainda andávamos seguindo a influência de Satanás e dos nossos próprios desejos pecaminosos (Ef 2.2,3), quando nada fazíamos nem desejávamos de bom (Rm 3.10-12), o Senhor nos amou e deu seu próprio Filho a fim de nos salvar (Jo 3.16). Não havia vantagens para Deus; somente para seus eleitos. Nem mesmo Cristo, nosso substituto, tinha ou buscou alguma vantagem pessoal, a não ser a nossa salvação que tanto lhe custou: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe 2.24 cf. Rm 5.8).

Vemos Moisés sofrendo com o peso de carregar um povo tão murmurador e ingrato como a geração que ele tirou do Egito: “Disse Moisés ao Senhor: Por que fizeste mal a teu servo, e por que não achei favor aos teus olhos, visto que puseste sobre mim a carga de todo este povo? [...] Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais” (Nm 11.11,14). Apesar de tudo, quando Deus dava a ideia a Moisés que poderia acabar com todo aquele povo e iniciar outra nação por seu intermédio (Nm 14.11,12), ele clamava ao Senhor que tivesse misericórdia mais uma vez, assumindo novamente o encargo de, contra todos os “interesses pessoais”, continuar guiando aquele povo de “dura cerviz”: “Perdoa, pois, a iniquidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia e como também tens perdoado a este povo desde a terra do Egito até aqui” (Nm 14.19).

Que dizer, então, do apóstolo Paulo? Acaso ele ministrava às igrejas por “interesses pessoais”? Certamente, ele não estava atrás de vantagens para si: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente a preocupação com todas as igrejas” (2Co 11.24-28). Apesar dessa triste lista de sofrimentos, Paulo dizia ser agraciado por Deus por poder padecer por Cristo (Fp 1.29) e que, mesmo diante da vida futura que o aguardava, ele preferia continuar labutando pelos irmãos: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne” (Fp 1.23,24).

Contrariando a lógica do mundo e das nações, o cristianismo busca amigos não pelo que eles podem oferecer, mas pelo que nós podemos lhes oferecer e contribuir para seu crescimento e bem-estar. Os cristãos não vão às igrejas para saber o que vão receber e de que modo serão agradados ou adulados, mas para ver como podem contribuir para o crescimento do Corpo do qual eles mesmos fazem parte. Esse ponto, certamente, é mais um dos aspectos superiores do Reino que estão sobre todos os reinos humanos. Um Reino que, a partir do seu Rei, todos servem uns aos outros desprovidos de qualquer tipo de egoísmo.

Pr. Thomas Tronco

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