Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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Os Homens Cooperam com Deus para sua Salvação?

Pastoral

Certa vez, fui abordado por alguém que pretendia me evangelizar. A pessoa se aproximou, encarou-me por um instante com olhar marejado e disse com a voz embargada: “Você só precisa dar um passo para Deus e ele caminhará por você. Faça sua parte e Deus fará a dele”. Eu, que na época era um jovem incrédulo, não soube como reagir. Fiquei parado, atônito e com a sensação de que o controle estava, de fato, em minhas mãos. Em fração de segundos esbocei um quadro em minha mente no qual o excelso Criador se inclinava do seu trono majestoso torcendo para que eu recebesse seu Filho como Salvador. Do contrário — imaginei —, ele respeitaria minha escolha, ainda que fosse a de rejeitá-lo e ser condenado ao inferno. 

O sujeito que se dirigiu a mim naqueles termos apresentou o que, mais tarde, eu viria a conhecer como sinergismo. A palavra sinergismo tem a ver com cooperação. Remete a duas ou mais pessoas trabalhando juntas, em uma dinâmica colaborativa. Os sinergistas ensinam que, embora a salvação do pecador seja obra de Deus, o homem deve cooperar com ele fazendo sua parte. Essa disposição de colaborar com Deus só é possível — dizem eles — graças ao livre-arbítrio de cada indivíduo que o capacita a decidir, livremente, acolher o evangelho, crendo em Cristo como único e suficiente Salvador. Para os que advogam a favor do sinergismo, o homem trabalha conjuntamente com Deus para sua salvação, ao passo que decide, de maneira autônoma, depositar sua fé em Jesus. Entre os principais grupos que acolhem a doutrina sinergista, estão católicos romanos, arminianos e adeptos do teísmo aberto.

Não é necessário muito esforço para notar que os sinergistas cometem um erro crasso ao afirmar que o homem coopera com Deus para sua salvação. Uma leitura simples de Efésios 2.1-10, por exemplo, faz-nos entender que o homem sem Deus é morto, totalmente entregue ao pecado. Nesse estado de inanição, é impossível se achegar a Deus por iniciativa própria. Para que esse indivíduo se mova em direção ao Salvador é necessário que o próprio Senhor o impulsione, concedendo-lhe a fé. O apóstolo Paulo diz: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).

Quando Deus elege alguém para a salvação, ele não o faz baseando-se nos méritos do eleito, nem tampouco por prever qualquer fator positivo no homem, mas sim em sua própria vontade livre e soberana (Rm 9.14-24; 11.3-8; Ef 1.4-5; 2Tm 1.9; 1Pe 1.1-2). João Calvino assegura que “se Deus nos escolheu para que fôssemos santos, então não nos escolheu por ter previsto que o seríamos; pois são duas coisas contrárias, que os fiéis tenham sua santidade pela eleição e que pela santidade de suas obras tenham sido eleitos (...). Como concordar que o que é efeito da eleição tenha sido a causa da eleição?”. De fato, não há nada no ser humano que o faça merecedor da eleição, de modo que, se não fosse a ação graciosa de Deus, estaríamos todos perdidos.

Podemos afirmar, portanto, com base nas Escrituras, que somente o Senhor opera na salvação do homem. A isso se dá o nome de monergismo. O termo monergismo indica que somente uma pessoa realiza a obra da salvação, ou seja, que Deus intervém na disposição dos eleitos fazendo florescer em seus corações a fé salvífica. Nesse sentido é Deus quem predestina, chama, justifica e glorifica aqueles a quem soberanamente escolheu (Rm 8.29-30). Essa sequência na obra da salvação (ordo salutis) é um processo impossível de ser anulado. Aqueles a quem o Senhor predestinou para a salvação serão um dia chamados de modo eficaz e, ainda que resistam por um determinado tempo, enfim virão até ele (Jo 6.44, 65), sendo declarados justos diante de Deus e sendo libertos de toda condenação e culpa (Rm 5.1; 8.1). Por fim, serão glorificados (1Co 15. 42-43, 51-54; 2Co 5.1-4) e habitarão com Deus em um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1-4).

O monergismo é uma doutrina bíblica que impacta, também, o modo de lidar com o evangelismo. Sendo Deus o autor e consumador da fé (Hb 12.2), responsável por efetuar em nós tanto o querer como o realizar (Fp 2.13), não cabe ao evangelista fazer uso de palavras vazias e velhos jargões para tentar convencer o incrédulo. Ao contrário, a exposição clara da verdade deve ser sua prioridade, visto que, além de determinar os que seriam salvos, Deus também definiu a pregação como meio de levá-los à salvação (Rm 10.17; 1Co 1.21). Em resumo, no monergismo somente Deus é glorificado na salvação do homem.

Bem, eu não sei por quais caminhos trilhou a pessoa que tentou me persuadir a cooperar com Deus para obter a salvação. Espero que ela tenha aprendido sobre a doutrina da graça e esteja desfrutando da alegria de ser contada entre os que foram alvos do favor imerecido do Senhor.  

Pr. Robson Alves 

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