Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Obadias 4

 

“Se você subir como águia e fizer seu ninho entre as estrelas, eu o derrubarei dali — declara o Senhor” (Obadias 4).

Muitas vezes, temos a impressão de que as pessoas ricas, influentes e poderosas jamais são punidas por suas más ações, visto contarem com um grande aparato de proteção — com frequência, até nos meandros do sistema de justiça —, razão pela qual até perdemos a esperança de ver o mal punido. Se os edomitas vivessem hoje, é possível que tivéssemos essa mesma sensação a respeito deles, pois suas defesas naturais, no alto das montanhas e no meio das rochas, proporcionavam um tipo de “salvo-conduto” para os perversos que agiram com tanta maldade e injustiça em tempos de vulnerabilidade e sofrimento dos israelitas. E o pior de tudo é que eles mesmos tinham tal impressão, sentindo-se a salvo de qualquer ataque inimigo, invencíveis e imbatíveis em suas altas fortalezas, com seus corações soberbos e petulantes, desafiando qualquer um que pretendesse lhes fazer mal ou lhes trazer a merecida punição — o versículo anterior não deixa dúvidas quanto a isso. Porém, mais uma vez, Deus os lembra de que ele não tem dificuldades para subir montanhas e escalar rochas, nem executar seus planos e sua justiça em qualquer lugar que seja.

Para demonstrar sua capacidade e intenção de abater Edom pelo mal que cometeu contra Israel, o Senhor é ainda mais enfático, utilizando duas cláusulas condicionais,[1] marcadas por fortes figuras de linguagem na forma de metáforas e hipérboles, a fim de abalar a falsa confiança do coração orgulhoso dos edomitas e confirmar a execução do seu juízo. A primeira cláusula condicional supõe o seguinte: “Se você subir como águia”. O verbo traduzido aqui como “subir” tem sentido direto de “elevar-se”, ideia presente, desde o v.2, em toda a descrição da prepotência desse povo, baseado em sua habitação sobre a montanha, e do consequente castigo que receberiam ao serem rebaixados, tirados de seus lugares altos, seja do ponto geográfico de sua morada, ou da altivez dos seus pensamentos e ações. Por isso, mesmo que Edom pudesse, assim como uma águia, elevar-se mais ainda, subindo nas batidas de suas asas até a altura dos céus, nos quais voam pássaros desse porte, eles não estariam fora do alcance divino.

A segunda cláusula condicional, além de metafórica, ainda na figura da águia e de sua morada, apela para uma hipérbole bastante significativa ao dizer: “E fizer seu ninho entre as estrelas”. Apesar de, por questões de estilo, não termos utilizado a partícula condicional “se”, valendo-nos da presença dela na primeira cláusula, ela consta do texto hebraico, enfatizando que a lição embutida na primeira parte do versículo vale também para essa. Nesse caso, ainda que, além das possibilidades naturais das próprias águias, os edomitas pudessem se elevar a tal ponto que conseguissem fazer seu ninho no meio das estrelas, isso não seria suficiente para torná-los imunes ao tratamento de Deus, nem inalcançáveis para os braços do Senhor. Esse tipo de hipérbole, tão exagerada e fora da realidade comum, é utilizada várias vezes na Bíblia quando se quer enfatizar e exaltar conceitos supremos dos atributos, das ações ou dos valores divinos.

Exemplos disso são o perdão incontável de Deus, expresso na dívida absurda de 10 mil talentos (Mt 18.24) por parte de um servo, a quem foi perdoada toda a dívida (algo em torno de 340 toneladas de prata), ou no grande número da descendência de Israel, tão grande e difícil de contar como o “pó da terra” (Gn 13.16), ou ainda na grandeza do amor ensinado por Deus, cujo valor é muito superior ao de alguém que pudesse falar todas as “línguas dos homens” ao redor do mundo e, como se não bastasse, até mesmo o idioma “dos anjos” (1Co 13.1). Nesse caso presente, a hipérbole utilizada em Obadias é semelhante à do salmista que afirma que, mesmo no mais alto céu ou no mais profundo abismo (Sl 139.8) a que um homem (especialmente dos dias do escritor) pudesse chegar, até ali estaria o Senhor agindo. São figuras fortes e carregadas de sentido. Em Obadias 4, essa eloquente hipérbole serve para transmitir a ideia de que altura alguma os livraria de Deus, que lhes diz: “Eu o derrubarei dali — declara o Senhor”. Tanto o ato de derrubar ou rebaixar, presente também no v.2, como a fórmula solene e formal — “declara o Senhor” —, que fecha o versículo, usada por Deus quando quer realçar a certeza do cumprimento de suas palavras, apontam, sem qualquer sombra de dúvida, para o fim que Edom teria.

Uma das lições que tiramos disso é a certeza de que não há distâncias que o braço do Senhor não alcance, nem defesas que ele não ponha abaixo quando quer punir o mal no mundo e até quando quer disciplinar seus servos. Por outro lado, a lição seguinte é que, se o braço de Deus é grande para punir o mal em qualquer lugar, é também longo para abençoar e derramar sua graça aonde for, sejam quais forem as dificuldades. Nenhuma hipérbole é exagerada o bastante para descrever o bem e o favor que o Senhor concede aos seus, sabendo como administrar cada um deles, no tempo e na dose exata, para ser real o texto que diz “que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Além disso, o próprio Jesus, que prometeu estar conosco “todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20), ensinou que Deus, como bom “Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7.11). Em resumo, nunca se sinta seguro ao fugir e se esconder de Deus, seja aonde for, nem nunca deixe de confiar no amor e graça de Jesus, nosso Senhor, independente do lugar em que esteja ou das circunstâncias difíceis que enfrente.

Pr. Thomas Tronco


[1] Baker, David W.; Alexander, T. Desmond; Sturz, Richard J. Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias: Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 39.

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