Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Governantes Sádicos

Pastoral

“Por ordem do rei, o decreto foi rapidamente enviado por mensageiros (...) Então o rei e Hamã se sentaram para beber, enquanto a confusão se espalhava pela cidade de Susã.” (Ester 3.15).

Roma estava sob a luz do luar quando foi iluminada por um terrível incêndio. Na noite de 18 de julho de 64 d.C., grande parte da capital do mundo ocidental antigo padeceu sob o fogo voraz. Algumas tradições sustentam que o imperador Nero, enquanto via sua cidade arder, tocava harpa em seu palácio e, em tons mórbidos, celebrava aquela tragédia. Talvez, seu plano urbano e arquitetônico para uma nova “Nerópolis” estivesse tomando forma, mesmo que, para isso, alguns cidadãos precisassem pagar com a vida.

Sabe-se que Nero era cruel e cotado por alguns como louco. Entretanto, seu possível comportamento sádico em meio ao incêndio de Roma não deveria surpreender. De fato, a maldade humana pode chegar a níveis assombrosos e o jogo de interesses de Nero parece se repetir ao longo da história. Desse modo, qual a relação entre a postura de Nero, a narrativa do livro de Ester e as políticas adotadas por muitas autoridades em meio ao Covid-19?

Os primeiros capítulos de Ester narram uma autoridade do alto escalão Persa profundamente incomodada com um judeu que não lhe prestava a suposta honra. Mordecai, não se curvando diante de Hamã, atraiu para si a fúria de um déspota (Et 3.1-6). O resultado disso foi a elaboração veloz de um plano maligno que não afetaria apenas Mordecai, mas “destruiria, mataria e aniquilaria de vez a todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulheres, em um só dia” (Et 3.13). Hamã, fazendo uso de sua autoridade e proximidade com o rei Xerxes, dá seguimento a seu jogo assassino e, legalmente, distribui por todo o império persa a ordem de extermínio do povo judeu (Et 3.1,8-11).

Não bastassem o abuso de autoridade e a decisão absolutamente imoral, Hamã ainda tripudia sobre toda a nação, celebrando o decreto homicida ao lado do rei, no palácio de Susã (Et 3.15). O povo, diante daquela atrocidade, não partilha do entusiasmo de Hamã, permanecendo atônito com o uso da força política em uma ação tão cruel e irremediável. Se a história faz ecos, Nero reproduziu, anos depois, as mesmas notas mórbidas da celebração de Hamã.

Séculos se passaram. Entretanto, os ecos do pecado na história continuam a trazer estes episódios à tona. Figuras públicas têm usado de toda a crise internacional do Covid-19 para seus próprios interesses imorais, jogando politicamente com vidas inocentes, colocadas por Deus sob sua autoridade (Rm 13.1-7). A população, enquanto isso, reproduz a postura dos cidadãos persas, perplexos diante do terrível comando de Xerxes. Decretos ali, portarias acolá, e o povo ainda hoje padece nesse grande incêndio virulento, enquanto seus governantes tocam as notas da harpa de Nero.

Diante dessa frustrante realidade, qual a esperança do crente? Em primeiro lugar, é importante relembrar a pergunta retórica de Abraão diante da iminente destruição de Sodoma: “não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). O Senhor é “justo Juiz” (Sl 7.9-11) e, certamente, cobrará de seus “ministros” terrenos a devida conta pelo mau uso da autoridade que lhes foi outorgada. O final trágico de Hamã expressa tal verdade de modo cristalino e até irônico (Et 7.10).

Em segundo lugar, a corrupção presente deve lançar os olhos do cristão para o futuro, quando Jesus, o Rei dos Reis, que “julga e peleja com justiça” (Ap 19.11), finalmente regerá as nações com “cetro de ferro” (Ap 19.15). Além disso, o crente também tem a promessa de “novos céus e nova Terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3.13). Se hoje a justiça é apenas uma visitante no mundo, o cristão anseia pelo dia em que ela fará morada definitiva na nova criação.

Por fim, em terceiro lugar, vale lembrar que a esperança absoluta do cristão não está na medicina, nas corporações globais e muito menos em políticos terrenos. De fato, “maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17.5). Em tempos de crises políticas, econômicas, morais e sanitárias, é fundamental que o povo de Deus se curve humildemente diante do único que pode verdadeiramente livrar “da peste que se propaga nas trevas (...) da mortandade que assola ao meio-dia” (Sl 91.6).

Pr. Níckolas Borges

Coram Deo

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