Sexta, 19 de Abril de 2024
   
Tamanho do Texto

Pesquisar

A Sede de Ernesto

Pastoral

No início de julho de 1956, o hoje famoso Ernesto “Che” Guevara, estava no México, mergulhando numa empreitada que mudaria para sempre a sua vida. Nessa época, ele escreveu o seguinte aos seus pais:

“Algum tempo atrás, há bastante tempo agora, um jovem líder cubano [ele se referia a Fidel Castro] me convidou para me juntar ao seu movimento, um movimento armado pela libertação de seu país, e eu, é claro, aceitei... Meu futuro está ligado a essa Revolução Cubana. Eu triunfarei com ela ou morrerei por lá... Durante minha vida procurei a minha verdade em um processo de tentativas e erros, e agora, no caminho certo, e com uma filha que me sobreviverá, fechei o ciclo. Daqui por diante, não consideraria minha morte como uma frustração, mas apenas, como Hikmet [o poeta turco]: ‘Levarei para o túmulo apenas a mágoa de uma canção inacabada’”.

Guevara contava, então, com 28 anos de idade. Ao longo de toda a sua vida, jamais se envolvera em qualquer luta política. Mesmo nos tempos de estudante de medicina, em Buenos Aires, nunca participara sequer de uma passeata em protesto contra qualquer governo. Na verdade, o mais distante a que havia chegado em sua visão crítica da sociedade era um inconformismo estéril diante da pobreza da América do Sul, pobreza essa que atribuía aos EUA, com seu monopólio sobre as fontes de minério e de produção agrícola. E essa visão da pobreza, Ernesto não havia obtido por se engajar em alguma causa social. Antes, obtivera essas concepções a partir de viagens de aventura que fizera pelo continente afora, montado numa motocicleta.

Ocorreu, porém, que, em meio a essas viagens, o jovem e inconsequente Ernesto chegou à América Central e, ouvindo falar de movimentos políticos inconformistas nessa região (mais especificamente no Caribe), almejou, como aventureiro que era, testemunhar uma revolução de perto. Bastou, enfim, conhecer o jovem e cativante Fidel Castro para, hipnotizado por seu discurso, pular de cabeça na causa revolucionária, mesmo sem nunca antes ter morrido de amores por qualquer ideologia política.

Como explicar essa decisão de Ernesto? Como ele pôde ser tão facilmente conduzido naquela direção radical e perigosa que o levou à luta armada e, afinal, à morte, nas selvas da Bolívia, onze anos depois? 

Sem querer ser simplista demais, creio que Ernesto abraçou de corpo e alma a causa de Fidel porque este lhe ofereceu algo que ele estava procurando havia muito tempo. Notem bem: em suas viagens de moto pelos países latinos, Ernesto não buscava apenas aventuras. Ele buscava satisfazer seu coração vazio e faminto. Conforme revelou aos seus pais na carta transcrita acima, o jovem “Che” procurara durante muito tempo a “sua verdade”, isto é, algo que desse sentido à sua vida e lhe fornecesse uma razão para prosseguir ou uma causa por que lutar. Assim, tão logo Fidel lhe mostrou um pobre prato de lentilhas, o Ernesto faminto não hesitou um instante sequer, oferecendo sua vida em troca desse prato que, para alguém com tanta fome, parecia ser um enorme banquete.

De quantas loucuras e sacrifícios é capaz a alma sedenta! Como Ernesto Guevara, moços e moças perdem a saúde, o tempo, a juventude, a virtude, a paz e a família, tudo na busca de algo que preencha o vazio de suas vidas. No fim, descobrem que as águas que beberam lá fora só serviram para aumentar sua sede e envenenar sua vida, lançando-os no desespero, na depressão, na ruína e na morte.

Por isso, nós, cristãos, os portadores da mensagem celeste, devemos prosseguir na tarefa santa de explicar ao mundo que existe uma fonte diferente daquelas que atraem e iludem os “ernestos” que vagam por aí. Devemos explicar amorosamente a cada pessoa sedenta que Jesus Cristo é a fonte singular da água viva, o único capaz de matar definitivamente a sede do coração, pois somente ele teve a autoridade e a santa ousadia de dizer: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu interior” (Jo 7.37-38).

Pr. Marcos Granconato

Soli Deo gloria

Este site é melhor visualizado em Mozilla Firefox, Google Chrome ou Opera.
© Copyright 2009, todos os direitos reservados.
Igreja Batista Redenção.