Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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Corações de Aço Revestidos de Barro

Pastoral

Profundamente emocionado por causa de seu irmão, José apressou-se em sair à procura de um lugar para chorar e, entrando em seu quarto, chorou. Depois de lavar o rosto, saiu e, controlando-se, disse: ‘Sirvam a comida’” (Gn 43.30-31).

Em tempos em que a masculinidade é constantemente atacada, é comum questionar como o homem deve lidar com as emoções. Enquanto alguns defendem que “homem não chora”, outros, por sua vez, acreditam que não há nenhum problema em dar plena vazão às emoções, independente do contexto. Esse desequilíbrio tem criado homens extremamente “sensíveis” ou completamente “brutos”, romantizando ou demonizando a expressão de sentimentos.

O exemplo de José é um bom parâmetro de como o homem deve lidar com suas emoções. Se, por um lado, o homem não deve se tornar impassível e indiferente ao que acontece ao seu redor e dentro de si, por outro lado, também deve estar apto a exercer domínio sobre seus sentimentos quando necessário. O justo equilíbrio entre esses dois aspectos habilita o homem cristão a exercer a liderança do lar e da igreja de modo sadio, compassivo e prudente.

Aqueles que defendem que um “homem de verdade” não esboça qualquer emoção de modo legítimo, mantendo sempre uma expressão sisuda e impessoal, esquecem que o próprio Senhor Jesus, o homem perfeito, expressou suas emoções diversas vezes. Além de chorar, conforme João 11.33-35, também se emocionou profundamente em outras ocasiões. A palavra traduzida por “sentir grande compaixão”, presente em Mateus 9.36 e em outras passagens dos Evangelhos, refere-se a uma espécie de “aperto nas entranhas”, a parte mais íntima do ser — é onde sentimos o “frio na barriga” ou as “borboletas no estômago”, por exemplo. Paulo nutria um sentimento muito parecido por seus irmãos, como é descrito em Filipenses 1.8, e o apóstolo João questiona a salvação de um indivíduo que, vendo seu irmão padecer, não sentia qualquer tipo de compaixão (1Jo 3.17).

O próprio Davi, no Salmo 6.6, clama a Deus: “Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito”. A evidente figura de linguagem exagerada mostra que, diante das aflições da vida, Davi recorria a Deus, muitas vezes, em prantos. Outros salmos ilustrativos a respeito disso são o 42 e o 126, além de muitos outros que contêm expressões semelhantes.

Outro texto importante contra a insensibilidade masculina é 1Coríntios 16.13-14. Ali, o apóstolo dá comandos para o exercício da varonilidade com um adendo fundamental ao final: “Façam tudo com amor”. Obviamente, Paulo tem em mente o amor descrito em 1Coríntios 13 e não as noções romantizadas que a sociedade contemporânea construiu. Entretanto, trata-se, ainda assim, de uma profunda compaixão e compadecimento pelos irmãos, algo que permite ao homem bíblico “chorar com os que choram” (Rm 12.15). Aliás, o próprio ministério do apóstolo Paulo foi marcado por lágrimas (At 20.31).

O equilíbrio da balança se dá, também, na capacidade que os crentes devem ter em controlar suas emoções quando necessário, exatamente como fez José. Sem dúvida, isso serve tanto para a tristeza profunda como para a ira, algo característico dos homens. Nesse sentido, o domínio próprio de Cristo, ilustrado em João 2.13-17, deve ser parâmetro para que mesmo a ira justa seja canalizada e devidamente controlada em situações de estresse.

É válido lembrar que, diante da ameaça iminente de morte por naufrágio em sua viagem à Roma, Paulo manteve a calma e o foco a fim de auxiliar aqueles que estavam com ele na embarcação, garantindo que todos chegassem salvos à terra firme (At 27.13-44). Que contraste com os homens de hoje, que são os primeiros a surtar diante de um pneu furado!

Eis aí o equilíbrio sadio na expressão das emoções. Portanto, os maridos devem estar atentos às necessidades emocionais de suas esposas, compadecendo-se de seus dilemas, ao invés de se mostrarem ogros indiferentes e brutos. Também significa que não é pecado se emocionar com um bom filme — “malditos ciscos”! Por outro lado, o homem deve ter plena consciência de que, sendo líder em diversas esferas, não deve permitir que suas emoções estorvem suas decisões a ponto de comprometer o bem-estar de seus liderados, seja no contexto doméstico ou eclesiástico. De fato, como ouvi certa vez: ser homem é ter um coração de aço revestido de barro.

Níckolas Ramos

 

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