Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Quando as Lágrimas Evaporarem

Pastoral

Registra, tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em teu livro? (Salmos 56.8).

Existem três tipos de lágrima: a basal, a reflexiva e a emocional. A lágrima basal é produzida continuamente em nosso organismo para a lubrificação e proteção dos olhos. A lágrima reflexiva, por sua vez, visa à proteção quando substâncias irritantes, como os vapores de cebola, entram em contato com os olhos.

No entanto, é a lágrima emocional a que mais conhecemos por experiência. A lágrima emocional, diferente até em sua composição química, é também secretada em momentos de prazer e alegria. Todavia, não há dúvidas de que nossas experiências dolorosas compõem a principal fonte de tais lágrimas. E, nós, seres humanos, oriundos de qualquer cultura, valorizamos nosso choro. Essa valorização deu origem à pratica antiga de guardar as lágrimas — em pequenos odres — dos momentos de dor e aflição.         

Odres de lágrimas eram relativamente comuns em funerais durante o Império Romano e muitos deles foram encontrados por arqueólogos na região de Israel. As pessoas costumavam coletar suas lágrimas e depositar, juntamente com o corpo de um amigo ou familiar querido, como sinal de respeito e de sentimentos de uma perda irreparável.

A prática se estendeu por séculos, sendo que durante a Era Vitoriana (1837-1901) os odres eram feitos de tal forma que coletavam as lágrimas e as permitiam evaporar. Logo, o período de luto era atrelado ao tempo necessário para a evaporação de todo o conteúdo do odre.

No entanto, o odre de lágrimas não era usado apenas para momentos de luto. Há relatos de que, durante a Guerra Civil Americana, mulheres choraram a partida de seus maridos para a guerra e guardaram suas lágrimas, na esperança de ter os seus maridos de volta ao lar, podendo, então, demonstrar o quanto sua falta foi sentida.

O versículo citado no início é um exemplo do uso do odre de lágrimas, não relacionado à perda pela morte. Ele foi escrito por Davi quando se encontrava em grande aflição. Sua vida estava claramente ameaçada e ele enfrentava a dupla perseguição, por motivos distintos, do rei Saul e dos inimigos filisteus. Davi, aparentemente, possuía um desses odres (ou, pelo menos, conhecia a prática) e expandiu sua experiência à dimensão metafísica, realçando que Deus se importava com seu sofrimento e igualmente coletava as lágrimas de seu servo em seus odres celestiais.

Esse deve ser um versículo conhecido da igreja que invariavelmente chorará até que o Senhor retorne. Não nos faltará ocasião para que nos acheguemos a esse versículo para uso pessoal ou no auxílio do corpo de Cristo que passa por aflições e provações. Certamente Deus coleta as lágrimas do seu povo que o teme e o honra nas mais diversas aflições e provações.

Todavia, seus odres não são mantidos para serem colocados em sepulturas, pois não haverá mais morte ou dor no cumprimento último de seu reino: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.4).

Talvez, os odres de lágrimas sejam, como foram na Era Vitoriana, marcadores do tempo de nosso luto e tristeza — o tempo de nossa vida terrena — até que todas as lágrimas evaporem por completo. Talvez, Deus me mostre o meu odre um dia — e ele já estará seco. Se for esse o caso, que esteja, enfim, seco para que eu comece a enchê-lo com mais lágrimas emocionais — as de alegria!

Ev. Leandro Boer

 

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