Testemunho de um Casamento Cristão, do Início ao Fim
Deus nunca me desamparou e nunca irá me desamparar.
Carlos Oswaldo Pinto, que foi Reitor e Professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida e que já desfruta das delícias celestiais, afirmava que “os métodos de Deus nem sempre fazem sentido, mas estão sempre certos”.
Deus me deu muitos presentes. O maior deles, sem dúvida, foi a graça da salvação; o outro, me arrisco a dizer, pouco menor, foi ter me dado a Gody como esposa.
Nosso encontro, da maneira inusitada como se deu, somente pode ter sido arquitetado pelo Deus soberano.
Eu a vi pela primeira vez às 19 horas, do dia 4 de abril de 1970, em frente ao prédio da rua Paissandu, 94, no Rio de Janeiro. Ela, então, com 19 anos e eu prestes a completar 24. Diga-se de passagem, foi um encontro arranjado por um amigo comum.
Quando ela atravessou a rua para se encontrar comigo, eu, embora nervoso, pela razão do primeiro encontro, não pude deixar de perceber o seu porte de princesa: alta, esguia, cabelos até à cintura; logo percebi seu rosto meigo, sorriso cativante. Era ela. Era o presente que Deus havia preparado para mim.
Desde aquele longínquo 4 de abril, tornamo-nos cúmplices em tudo. Ela não era a minha maior confidente. Ela era a minha única confidente. Não tínhamos qualquer segredo um para o outro.
Em 16 de dezembro de 1972, às 19 horas, nós nos casamos na Igreja Presbiteriana de Inhaúma, no Rio de Janeiro. Uma cerimônia simples, mas linda e cheia de significado para mim e para ela. Neste ano, iríamos completar 44 anos de casados.
Começamos, então, a nossa vida juntos e Deus foi enchendo a nossa aljava. Muitos me disseram que as meninas tinham dado sorte porque todas puxaram à mãe. Nunca tive dúvidas quanto a isso, para sorte delas.
Era uma esposa e mãe dedicada. Viajamos juntos tantas vezes e rimos tantas outras, principalmente por causa das minhas mancadas, que as meninas não perdoavam.
Depois, de mansinho, foram chegando os genros. Na sequência, a promessa de Deus — “e verás os filhos dos teus filhos” — foi se cumprindo. À medida que os netos iam chegando, eram notórios o contentamento e a alegria estampados no rosto da minha esposa. A todos dedicava carinho e atenção.
Seu amor por missões era contagiante. Em suas devocionais, orava diariamente pelos missionários, inclusive pelos que não estavam vinculados diretamente à nossa igreja.
A nossa casa sempre estava aberta para hospedar pastores e missionários. Por lá, passaram centenas deles. Dedicava-se com esmero e carinho para que todos fossem bem recebidos e se sentissem à vontade.
Nos últimos anos, superou como uma verdadeira guerreira as enfermidades que sobre ela se abatiam. Passou por quatro cirurgias, fez sessões de quimioterapia e de radioterapia. Nunca reclamou de nada. Algumas das suas cirurgias coincidiram com o período em que ocupei a presidência executiva do Mackenzie, o que me obrigava a deslocamentos semanais para São Paulo. Cogitei deixar o cargo, o que ela, com veemência, não concordou.
Amava profundamente a igreja. Conversávamos sobre as dificuldades da igreja e um dia ela me confidenciou: “Eu não gostaria de mudar de igreja. Eu amo esta igreja e gostaria de ficar aqui até os últimos dias, independentemente de você continuar ou não no presbiterato”.
Amava, também, a Organização Palavra da Vida. Sempre que estávamos em uma dependência da Palavra da Vida, em Atibaia, em Caldas Novas ou em Schroon Lake, ela sempre me dizia: “Quando estou aqui eu me sinto como se estivesse na antessala do paraíso”.
Ela viveu marcando vidas com o seu testemunho a respeito de Cristo. Marcou a minha vida, a vida das filhas e dos genros, a vida dos netos, a vida dos profissionais que cuidavam do seu visual, a vida das moças que nos serviam — quase que diariamente — cafezinhos no Fran’s Café, e a vida de tantos outros.
No último dia 23 de fevereiro embarcamos em um voo diurno para os EUA a fim de visitar os filhos e netos que lá residem. Ela estava radiante com a viagem e me disse: “Nossa, estou tão feliz de fazer esta viagem. Esperei tanto por este dia”.
Chegamos na casa dos filhos por volta das 21h30. Desfizemos a mala apenas o necessário. Fomos dormir. De madrugada, ao ir ao banheiro, ela teve um desmaio. Quando me dei conta, ela estava estendida no chão do banheiro. Eu a levei de volta para a cama e recomendei que não fosse novamente ao banheiro sem falar comigo. Duas horas depois, ela me disse que queria ir ao banheiro e foi apoiada em mim. Novo desmaio. Durante o dia 24, mais uns dois desmaios. Estava muito fraca e não conseguia ficar em pé. Ao final da tarde, meu genro, que é médico, sugeriu que a levássemos para o hospital. Depois de vários exames de sangue e punção da medula, ficou confirmado o diagnóstico de leucemia aguda.
Eu sabia que a situação era crítica, mas sabia também que Deus estava no controle, mesmo que o desfecho, do ponto de vista humano, viesse a ser desfavorável.
Na tarde do dia 26, dois dias depois de ter sido hospitalizada, Deus, que nunca se atrasa, em sua eterna soberania resolveu levá-la para a glória, onde ela já desfruta da eternidade celestial.
Tenho dito e reafirmo que, embora triste e choroso, não estou decepcionado com Deus. O que consola e conforta o meu coração é que ela estava preparada para se encontrar com o Senhor Jesus, a quem tanto amava.
E você, que ouve isso agora? Você está preparado para esse encontro? Se não, entregue sua vida a Cristo, receba-o em seu coração e, assim, poderá desfrutar da certeza que ela desfrutava — a de viver eternamente no céu com Cristo.
Eu não a perdi. Simplesmente não a perdi porque eu sei onde ela está. E, no tempo de Deus, eu também irei encontrá-la no céu e lá não haverá nem lágrimas, nem dor, nem tristeza. A Bíblia — a Palavra de Deus — me garante isso.
A Deus, o autor da vida e da esperança dos justificados pela fé em o nosso Senhor Jesus Cristo, seja toda a honra e toda a glória, hoje e eternamente!
Adilson Vieira