Sábado, 20 de Abril de 2024
   
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Comunhão: Semeie, Regue, Cuide!

Pastoral

Por mais que a turminha dos “sem igreja” reclame, a verdade é que, no Novo Testamento, a comunidade da fé é sim uma instituição formalmente organizada com liderança oficialmente instituída, normas de funcionamento, critérios específicos para o culto e para o auxílio social, regra de fé bem-definida e formas claramente delineadas de disciplina. Por isso, essas tentativas de transformar a igreja num grupinho de "bate-papo" sem compromisso podem até parecer bonitas, mas não refletem em absolutamente nada o modelo bíblico. Isso porque a igreja é, de fato, uma instituição, o que não dá pra negar, a não ser que se joguem fora porções inteiras das Escrituras, como o livro de Atos, as epístolas aos Coríntios e as Pastorais.

Ver, porém, a igreja como instituição tem lá seus perigos. Não que o conceito em si seja danoso. O problema surge quando alguém vê a igreja como mera instituição. O conceito meramente institucional da igreja pode levar a gente a esquecer seu conceito teológico (a igreja como povo redimido de Deus), sua natureza orgânica (a igreja como um corpo em que cada membro tem uma função dada pelo Espírito) e a sua importância como um grupo de comunhão. É sobre esse último aspecto — a igreja como um grupo de comunhão — que quero me concentrar aqui.

O famoso termo grego koinonia, traduzido pelo nosso vocábulo comunhão, exprime basicamente a ideia de compartilhar uma vida em comum. Sua realidade abrange um aspecto vertical (na medida em que o crente partilha da vida de Deus e com Deus) e um aspecto horizontal (quando o crente participa ativamente da comunidade da fé). Trata-se, assim, de um conceito vivo, dinâmico e constante que aponta para um grau de envolvimento que ultrapassa o que se vivencia em eventuais reuniões de adoração.

É a dimensão da igreja como koinonia horizontal que precisamos rever. Isso porque a maioria dos crentes de hoje participa muito pouco da vida da comunidade da fé. Muitos de nós somente “aparecem” nos cultos uma vez a cada quinze dias, tendo então um contato bastante superficial com os irmãos e se mantendo dentro de certa obscuridade, conhecendo poucos e sendo conhecido por alguns. Outros vêm com mais frequência, mas tomam o cuidado de se manter distantes dos dilemas, das lutas, das necessidades, dos trabalhos e dos dramas da comunidade em geral. Também evitam conhecer as dores e problemas dos crentes em particular (muitas vezes não se importam nem mesmo em saber o nome deles!), sendo assim incapazes de orar por eles, encorajá-los e apoiá-los (ainda que exijam tudo isso de todos quando eles próprios passam por dificuldades).

Esse quadro é muito ruim, pois confere à comunidade dos redimidos um rosto meramente litúrgico ou uma aparência de associação, muito semelhante àquelas antigas associações de “amigos do bairro” de que a gente fazia parte sem saber ao certo quem eram nossos “amigos do bairro”. Isso, porém, não é o pior de tudo. A falta de participação na vida da comunidade da fé traz prejuízos terríveis para os crentes em particular.

Como assim? Bem, deixe-me dizer o que tenho observado... Quando o membro distante é solteiro, a falta de koinonia induz geralmente a uma danosa substituição em que o crente passa a ter em pessoas incrédulas os seus amigos mais íntimos. Daí surgem namoros, diversões e hábitos que fazem o vigor espiritual do cristão secar. Ele se torna uma planta murcha, sem vida, sem fruto e sem cor. Conheci e conheço muitos crentes assim. Eles são como sombras dentro da igreja. São queridos e amados, mas não se pode dizer que compartilham uma “vida em comum” com a comunidade redimida.

Quando os membros distantes são casados, sua presença esporádica na igreja reflete fortemente em sua família. Em minha experiência pastoral, percebi que o impacto maior disso recai sobre os filhos. Raras vezes os filhos de casais que não vivem a real koinonia permanecem na igreja quando atingem a adolescência. A razão disso é óbvia: eles nunca viram a igreja como um fator central e importante na vida. Ouviram apenas palavras bonitas (“A igreja é maravilhosa”; “A igreja é muito importante”; “O que seria de nós sem a igreja”...), mas nunca vivenciaram uma participação intensa, ativa e sacrificial na comunidade do povo santo. Sempre notaram a priorização de outras coisas (jogos da seleção, festinhas de aniversário, passeios de fim de semana...). Logo, associaram à igreja uma porção de discursos tocantes e bonitinhos, mas nunca a viram como parte do dia a dia, como uma esfera dentro da qual estavam inseridos integralmente, mais do que em qualquer outra esfera da vida. De fato, os pais que vivem à margem da igreja devem se preparar para ver seus filhos bem longe dela. Então, lágrimas, apelos e castigos não surtirão efeito algum. Eu já testemunhei isso dezenas de vezes. Não se podem mudar as leis da história. Esperem e vejam!

A verdade é que a nossa koinonia com a igreja é como uma lavoura espiritual. Se plantamos pouco, se regamos pouco, se cuidamos pouco, enfim, se nossa dedicação a ela for meramente ocasional e breve, colheremos pouco ou quase nada. Essa é uma área em que Deus decidiu jamais fazer milagres. Quem não cuida da planta da koinonia, nunca colherá o fruto da fidelidade, da fortaleza, da maturidade e da pureza — nem em sua vida, nem na daqueles que estão sob seus cuidados. É assim que funciona... E ponto final.

Pr. Marcos Granconato
Força e Fé
Soli Deo gloria

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