Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Os Perigos de Pedir Perdão

Pastoral

Quando o crente peca contra Deus, isso, às vezes, envolve também pecar contra outras pessoas. Assim, o cristão que tem a consciência sensível, quando percebe que seu proceder afrontou tanto a Deus quanto aos homens, pede perdão não somente ao Senhor, mas também ao indivíduo que foi ferido pelo seu comportamento errado.

Isso faz parte da experiência cristã comum. De fato, o crente que nunca pediu perdão para a esposa, para os filhos, para os pais, para os irmãos na fé ou para os colegas de trabalho só pode ser explicado de duas maneiras: ou é uma pessoa perfeita, ou é alguém que nutre um orgulho tão grande que chega a cegá-lo, impossibilitando-o de enxergar os verdadeiros deveres do discípulo de Jesus. Bem, não precisa ser muito inteligente para descobrir qual é a hipótese mais plausível.

Sendo o pedir perdão uma realidade que compõe a experiência dos servos de Cristo no trato com as pessoas em geral, esses servos sabem quão difícil é ter de fazer isso. Pedir perdão envolve auto-humilhação, vergonha, reconhecimento de fraquezas e de defeitos... Coisas que nos fazem sentir mal e inferiores. Contudo, a dor de passar por isso tudo não é a única que o crente humilde corre o risco de enfrentar quando quer acertar as coisas com quem ofendeu. Há, pelos menos, mais dois “perigos”.

O primeiro deles é ter seu pedido de perdão rejeitado. Isso é comum acontecer tanto quando se pede perdão a crentes como quando se pede perdão a incrédulos. Quando é o crente que nega o perdão, o susto é maior, pois nenhum servo de Jesus tem esse direito. Perdoar é uma ordem que vem de Deus e que é dirigida enfaticamente a seus filhos (Ef 4.32; Cl 3.13). O Senhor não lhes deu a opção de não perdoar e ensinou que, se seus servos não perdoarem, o Pai celeste também não lhes perdoará as ofensas (Mt 6.14-15). A coisa é séria! Mesmo assim, o crente arrependido ainda enfrenta a dor de ter seu pedido de perdão recusado até por um irmão na fé.

Nesse caso, como agir? Bem, aí não há muito que fazer! Note bem: pedimos o perdão da pessoa; dispomo-nos a reparar algum prejuízo moral ou material que causamos (e esse lado não pode faltar — veja Lc 19.8). Entretanto, a pessoa se negou a perdoar. Diante disso, tudo o que nos resta é ir embora com a consciência tranquila. O que podíamos e devíamos fazer fizemos ou nos dispomos a fazer. Se a pessoa não aceitou... Oremos agora por ela e reparemos ao máximo os danos causados pelo nosso erro. Um dia talvez o perdão venha. Deus age no coração das pessoas.

O segundo perigo enfrentado pelo indivíduo que pede perdão é receber o que pede, mas isso ser precedido por algum tipo de castigo ou vingança. Ocorre que algumas pessoas, quando se veem diante de alguém que lhes pede perdão, interpretam isso como uma licença que lhes está sendo dada para ofender, atacar e humilhar ainda mais quem está tentando consertar as coisas. Elas pensam assim: “Se ele está me pedindo perdão, então está reconhecendo que a parte errada é ele. Isso agora me dá moral e autoridade para lhe dar uma boa lição”. Aí, prepara-se a bazuca e a devastação começa.

Essas pessoas não levam em conta que quem está diante delas já está se sentindo fragilizado, humilhado, tenso e triste e que, na verdade, é alguém que precisa de amparo, amor e um abraço de reconciliação, daquele tipo que restaura o coração mais esmagado e dolorido. Torturadores cruéis assim precisam aprender como é o perdão de Deus e imitá-lo, recebendo os “penitentes” com leveza, compaixão e simpatia.

Sim, pedir perdão é arriscado. Tem o constrangimento natural que a pessoa sente ao reconhecer diante de alguém que errou; tem a humilhação pela qual a pessoa passa ao se ver numa postura súplice, rogando ao seu semelhante que um erro que cometeu não seja mais levado em conta; tem a vergonha de recordar uma atitude feia que teve origem na maldade, na imaturidade, no descaso e na insensatez — coisas que insistem em brotar de dentro da gente.

Infelizmente, o desconforto de pedir perdão não se limita a essas coisas. Quem suplica o perdão de outro não sabe o que vai encontrar pela frente. Pode encontrar um coração fechado que diz não, vira as costas e vai embora impassível; ou pode encontrar um coração cruel que primeiro fere e só depois de se satisfazer com a tortura — depois de cobrar um preço amargo — concede o que lhe é pedido.

O servo de Deus, porém, quando ofende alguém, não tem outra escolha. Sua consciência influenciada pelo Espírito Santo não permite outra escolha. Ele se vê tentado a chutar a lembrança da ofensa para o canto e esperar que seja apagada pelo tempo. No entanto, lá no fundo ele sabe que uma ofensa velha e abandonada continua sendo uma ofensa e que, mesmo que seja esquecida pelo ofendido, diante de Deus ela continua ali, viva, brilhando, novinha em folha.

Por isso, mesmo com os fardos e riscos, ele se aproxima da pessoa a quem feriu e diz: “Preciso que você me escute um minuto. Eu errei contra você e o feri. Esse meu pecado trouxe dores e prejuízos que quero reparar a todo custo. Porém, antes de fazer qualquer coisa, gostaria que você me desse o seu perdão...”. O que virá a seguir? Não sabemos e isso assusta um pouco. Vamos, porém, em frente, lidando com um problema de cada vez.

Pr. Marcos Granconato
Força e Fé
Soli Deo gloria

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