Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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‘Overbooking’ na Arca de Noé?

Se você viaja de avião frequentemente, talvez já tenha passado pela desagradável experiência do overbooking. Como nem todo mundo que compra uma passagem de avião comparece ao aeroporto, pelos mais diversos motivos, as companhias aéreas — para evitar prejuízos — vendem mais passagens do que a capacidade máxima de passageiros da aeronave, antecipando que alguns passageiros possivelmente não virão. Todavia, quando há poucas desistências, faltam assentos para os passageiros e algumas pessoas não conseguem embarcar, mesmo tendo o bilhete em mãos. Isso é o overbooking. Logo, compromissos são perdidos, férias são adiadas e os funcionários das companhias aéreas têm de, pacientemente, lidar com repetidas reclamações dos viajantes frustrados e furiosos.

O conceito de overbooking também é um dos argumentos utilizados pelos inimigos de Deus para debochar dos cristãos que creem que a arca construída por Noé foi capaz de acomodar tamanho número de animais. Em outras palavras, é frequente escutarmos que haveria mais “passageiros” do que “assentos” na arca de Noé.

Em primeiro lugar, a palavra hebraica (mîn) traduzida frequentemente como “espécie” em português (Gn 6.19,20) e como “tipo” em inglês (lit. kind) é um termo cujo significado exato é incerto, segundo o Halot (The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament), p. 577. Entretanto, dado o uso dessa palavra no livro de Gênesis no sentido de, em vez de apontar para espécies bem definidas, servir para referências mais amplas (cf. Gn 1.24,25), percebemos que o termo denota um organismo que possui a capacidade de se reproduzir em outros organismos como ele mesmo. O conceito de “espécie”, como utilizamos atualmente, é bem mais restrito que isso, de modo que muitas “espécies” podem ser incluídas num único “tipo” bíblico. Logo, o termo “tipo”, utilizado por Moisés, é provavelmente próximo à moderna classificação taxonômica de “gênero” e, em alguns casos, uma unidade taxonômica maior, a “família”.

Ademais, deve-se ressaltar que nem todo tipo de animal precisou entrar na arca, pois poderia sobreviver ao dilúvio. Logo, Noé não precisou se preocupar com a acomodação e alimentação de 25 mil espécies de peixes, 1.700 tunicados, 600 equinodermos, 107 mil moluscos, 10 mil celenterados, 4 mil poríferos, 31 mil protozoários, 35 mil espécies de nematoides bem como mamíferos aquáticos como golfinhos, baleias, leões-marinhos, morsas, etc. Noé também não precisou se preocupar com os mais de 1 milhão de artrópodes, como baratas, aranhas, lacraias e outros que sobreviveriam ao dilúvio fora da arca.

É importante lembrar que Deus pediu a Noé que salvasse apenas os animais eleitos com “fôlego de vida em suas narinas” (Gn 6.17; 7.22). Para esses, houve espaço suficiente na arca de 135 m de comprimento, 22,5 m de largura e 13,5 m de altura (Gn 6.15), divididos em três andares (Gn 6.16). Para ser mais específico, tais dimensões reveladas por Deus nas Escrituras nos permitem fazer alguns cálculos interessantes trazidos à luz pelos doutores Henry M. Morris e John C. Whitcomb, na década de 1990. Considerando o mui conservador número de animais na arca em 40 mil (que incluiria com boa margem os animais já extintos e ainda não catalogados), menos de 30% da capacidade total da arca seria ocupada por eles. Para ilustrar melhor, apenas um dos três andares estaria repleto de animais, deixando os dois andares remanescentes para mantimentos, para os oito tripulantes humanos e para suas bagagens, as quais não precisariam estar restritas às limitações de peso das atuais companhias aéreas! Resumindo: cabiam muito mais seres vivos na arca do que os que de fato foram nela salvos da destruição.

É provável que Deus tenha provido a arca com um considerável espaço ocioso para poder resistir às diversas forças oceânicas que sobreviriam à Terra durante o dilúvio. Todavia, é possível que Deus tenha permitido que calculássemos o volume não utilizado na arca para que refletíssemos sobre outra verdade bíblica: que poucos são os que atendem ao chamado de Deus e que muitos optam pela morte.

As Escrituras nos mostram que a agenda de Noé foi marcada, por muito tempo, por duas pregações: a pregação de tábuas de cipreste em piche e a pregação da justiça (2Pd 2.5), que foi veementemente ignorada. Será que Noé viu os rostos das pessoas que o ignoraram e que poderiam ocupar tamanho espaço ocioso se tivessem aberto seus corações à pregação da justiça? Talvez sim. Todavia, a experiência de Noé é replicada ainda em nossos dias. Apresentamos uma nova “arca” — Jesus Cristo — para salvar definitivamente da morte eterna aqueles que creem nele, mas somos ignorados e desprezados.

Essa nova e perfeita “arca”, Jesus Cristo, nos advertiu: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela” (Mt 7.13). Todavia, ele mesmo disse que seríamos poucos e que não tivéssemos medo: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino”.

Ao que tudo indica, Jesus Cristo, a nova “arca”, semelhantemente à primeira, deve fechar com muito espaço ocioso... infelizmente!

Ev. Leandro Boer

 

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