Parecido com Quem?
Não há certeza de que esse episódio é verdadeiro ou não. Mas a lição que ele traz não somente é verdadeira como é, também, verificável na experiência humana. Basta recordar dos sustos que costumamos tomar ao ver uma pessoa mudada — ou para melhor, ou para pior — devido a viradas que ocorrem na vida. Contudo, não são apenas as vicissitudes da vida as responsáveis por mudanças bruscas na condição dos homens. O modo como as pessoas se relacionam com Deus e com sua Palavra também faz com que o homem tenha uma condição sublime ou desfigurada em pelo menos dois sentidos.
Em primeiro lugar, dependendo que como o homem se coloque diante de Deus, pode haver uma grande diferença no caminho que se segue. Se um relacionamento com Deus, marcado pela limitação do desinteresse e da insubmissão, traz resultados na vida alheia, a vida pessoal também. Nesse caso, um ótimo exemplo é o de Demas. Ele é primeiro apontado como um companheiro de Lucas e do apóstolo Paulo: “Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas” (Cl 4.14). Isso, por si só, demonstra sua participação na obra liderada por Paulo, o que é confirmado com a afirmação de sua cooperação na pregação e divulgação do evangelho: “Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores” (Fm 24). Imagine quanta gente foi beneficiada pela ação desse servo de Deus que vivia integrado ao ministério cristão!
Infelizmente, houve uma mudança brusca na vida de Demas e no seu relacionamento com Deus. Paulo diz dele: “Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica” (2Tm 2.4a). O apóstolo não diz o que ele foi fazer em Tessalônica, mas não é preciso. Sua motivação — o amor pelo presente século — indica que ele buscava aquilo que ambicionava no próprio mundo a fim de apetecer seu amor distanciado de Deus. Isso nos mostra que mesmo os mais úteis e dedicados servos podem abandonar a beleza do serviço cristão e se sujar com a feiura do mundo e do pecado.
Em segundo lugar, pode também haver uma grande diferença no que se inspira nos outros. Ao ordenar um procedimento que agisse como bom testemunho diante do mundo, Jesus diz: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). A obediência a essa ordem e a disposição de honrar a Deus fazem com que os crentes tenham vidas transformadas e diferentes a ponto de serem notadas pelas pessoas ao redor. Mas isso não é um fim em si mesmo. A intenção é produzir certo efeito nos observadores, inspirá-los a que “glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”.
Sendo assim, colocar-se de modo obediente e reverente diante do Senhor e do seu ensino torna quem age assim alguém que assume uma forma bela de um bom servo e de quem reflete um pouco do caráter do seu Senhor (2Co 3.18). Por outro lado, resistir às ordens e ensinos bíblicos, mantendo conceitos que divergem tanto da vontade de Deus como do seu caráter, a triste e inevitável consequência é que as pessoas ao redor também são influenciadas a uma prática parecida, pelo que informa Pedro: “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade” (2Pe 2.2). Impressionante ver como a mesma pessoa pode causar, dependendo do relacionamento que cultive com o Senhor, lucro ou prejuízo na causa do reino de Deus.
Essa é a razão pela qual os crentes passam por mudanças tão grandes em suas vidas. Diferente do que pensam ou dizem, eles não são forçados a um declínio do seu estilo de vida por causa de circunstâncias adversas, problemas de família, dificuldades financeiras ou vida atribulada, mas sim pelo relacionamento com Deus e com sua Palavra. Esfriar o interesse por servir, aprender e cultuar o Senhor tem a capacidade de transformar uma carreira formosa em uma existência destituída da beleza da comunhão com Deus e do brilho da luz de Cristo. Faz com que crentes comprometidos se tornem apenas uma lembrança em suas igrejas. Faz com que, em vez de brilhar a luz de Cristo, fique-se apagado em um campo nebuloso. Diante disso, cada um tem de se perguntar se quer ser mais parecido com Cristo ou com Judas.
Pr. Thomas Tronco