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Salmo 150 - A Necessidade de se Louvar a Deus

No Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado em Lausanne, em 1974, a preocupação com a pregação do evangelho aos povos era uma tônica nítida. Entretanto, o Sr. Michael Creen alertou seus pares sobre algo importante: “O evangelismo é a primeira prioridade da igreja. Mas não se pode isolar a pregação das boas novas sem destruir em si as próprias boas novas. O final de Atos 5 — em que se diz que os apóstolos pregavam o evangelho diariamente — nos leva a reviver aquela situação de Jerusalém. Mas, então, vem Atos 6 — instituição dos diáconos para socorrer os necessitados — com o tema da justiça social e do companheirismo”. O que ele queria dizer é que não se podiam abandonar outras áreas da vida cristã em função de uma delas somente, o evangelismo. Por isso, completou: “Eles poderiam facilmente ter dito: ‘Não reclamem por causa das viúvas. Vamos seguir em frente com a pregação. É isso o que importa!’. Se eles tivessem agido assim, teriam entristecido o Espírito e arruinado a comunhão”. Isso, infelizmente, acontece muito. Por gosto das pessoas ou por um impulso utilitarista e até financeiro, as igrejas tendem a valorizar certas práticas e atividades em detrimento de outras que fazem parte da própria identidade da igreja e do cristianismo. Uma delas tem sido a devoção e adoração a Deus — já que abundância de música não necessariamente quer dizer abundância de louvor.

Para que não se confunda como deve ser a adoração a Deus, o Salmo 150 pinta um quadro bastante definido dessa que é uma das ações que nos dizem quem são os servos de Cristo e a igreja de Deus. Não havia um modo melhor de concluir o saltério que um chamado efusivo e universal como esse salmo. Se o primeiro salmo nos transmite a responsabilidade de nos afastarmos do mal e nos aproximarmos de Deus e de sua Palavra, para uma vida realmente feliz, o último salmo transpira a vitória final de uma vida cheia de altos e baixos, bons e maus momentos, dificuldades e livramentos — o que também se vê no decorrer dos salmos —, culminando, ao fim da vida, no louvor exultante na presença de Deus. Esse é um modo válido de ver essa jornada. Entretanto, o Salmo 150, além de fechamento do livro, é uma unidade em si que fez e faz parte do culto a Deus e deve ser avaliado e utilizado nesse sentido. Como o tema é o louvor a Deus, o escritor nos aponta a necessidade que temos de adorar o nosso Senhor. E, para que isso não seja uma tarefa mecânica, ele oferece pelo menos três informações importantes sobre o louvor que nos cabe oferecer e do qual nosso Deus é plenamente digno de receber.

A primeira informação importante sobre a adoração a Deus é a causa do louvor (vv.1,2). O texto inicia, como é de costume em salmos desse tipo, com um chamado público à adoração (v.1): “Exaltai ao Senhor! Exaltai a Deus no seu santuário! Exaltai-o no firmamento do seu poder!” (hallû yah hallû-’el beqodshô hallûhû birqîa‘ ‘uzzô). Essa estranha expressão “firmamento do seu poder” teria um sentido duplo, significando que o céu foi feito pelo poder de Deus (Is 45.12) ou que ele pode ser visto por meio da observação dos céus (Sl 19.1) — ou os dois sentidos juntos. É claro que isso, a princípio, nos dá a entender que o “santuário” aqui descrito seja o próprio firmamento. Ainda que isso possa ser verdade, é pelo menos uma indicação de que esse cântico era entoado no culto público no santuário de Deus, entre os israelitas, onde eles lhe ofereciam louvor.

Assim, para justificar um chamado tão importante, o salmista diz aos seus pares as razões para que todos se empenhem com ânimo e vigor redobrado na adoração. Em primeiro lugar, ele diz (v.2a): “Exaltai-o pelos seus feitos poderosos!” (hallûhû bigvûrotayw). Como “feitos poderosos”, os israelitas recordavam da criação magnífica do universo e da libertação poderosa de Israel do Egito. Além disso, a história de libertações, bênçãos e grandes feitos divinos desse povo dava subsídios suficientes para, recordando tudo que o Senhor já tinha feito até ali, todos se dobrarem em reverente adoração e se levantarem para exultar de alegria e louvor diante do seu redentor e benfeitor. Em segundo lugar, o salmista diz (v.2b): “Exaltai-o conforme sua imensa grandeza!” (hallûhû kerov gudlô). A semelhança entre as duas cláusulas desse versículo não deve mascarar a sutil diferença entre elas. Na primeira, os “feitos” são grandiosos ou “poderosos”. Na segunda, Deus é quem é “grandioso”. Deus não é grande só pelo que ele faz, mas por quem ele é. Seus atributos em si, ainda que ele nada fizesse para demonstrar sua grandeza, seriam suficientes para que ele recebesse toda adoração. Ele é um Deus grandioso que faz coisas grandiosas e incomparáveis.

A segunda informação importante é o modo do louvor (vv.3-5). Essa seção traz uma lista de muitos instrumentos e práticas musicais normalmente fazendo o estudante da Bíblia imaginar que se trata de um trecho sem utilidade para a teologia e para a vida prática dos servos de Deus. Mas isso não é verdade. Ele mostra que no louvor a Deus há lugar para todos os tipos de pessoa, habilidade e talento e, também, que não há nada que se possa emprenhar na adoração do Senhor que ultrapasse aquilo que Deus merece e que lhe é próprio ao receber o louvor dos servos. Por isso, o salmista convoca (v.3): “Exaltai-o com toque de trombeta! Exaltai-o com lira e harpa!” (hallûhû beteqa‘ shôfar hallûhû benevel wekinnôr). Essa é uma combinação interessante porque a delicadeza da harpa normalmente não dividiria espaço com os fortes e envolventes toques das trombetas. Mas, aqui, elas criam uma bela e apropriada harmonia de louvor a Deus.

O chamado prossegue e um toque de extrema alegria é dado ao citar instrumentos (v.4): “Exaltai-o com tamborim e dança! Exaltai-o com instrumentos de corda e flauta!” (hallûhû betof ûmahôl hallûhû beminnîm we‘ûgav). Assim como no salmo precedente, expressões corporais fazem parte do louvor a Deus, o que torna a necessária restrição de excessos nessa área hoje em dia, algo ligado a princípios mais amplos como ordem, decência, conveniência, edificação e testemunho, já que não se pode atribuir erro per si ao que a Bíblia se referiu como danças. O que se faz necessário, logicamente, é o estudo aprofundado do que exatamente vinham a ser as danças e como elas se enquadravam na cultura israelita antiga, não se podendo simplesmente transpor o termo para a prática nos moldes presentes. O que é certo é que elas tinham relação com o ritmo, já que nesse salmo e o anterior há a associação aos tamborins. Nesse caso, há também a presença de instrumentos de melodia como instrumentos de cordas e de sopro. Finalmente, para dar uma pitada de exultação, pratos são utilizados para expressar estrema alegria durante o louvor (v.5): “Exaltai-o com címbalos sonoros! Exaltai-o com címbalos ressonantes!” (hallûhû betsiltselê-shama‘ hallûhû betsiltselê terû‘â). Portanto, o modo de se louvar a Deus envolve todo tipo de recursos, dedicação, habilidade, espontaneidade e uma alegria muito grande e verdadeira.

Finalmente, a terceira informação importante é sobre quem deve oferecer o louvor (v.6). O salmo termina chamando os adoradores não pelo nome mas por sua função vital da respiração (v.6): “Que todo fôlego exalte ao Senhor! Exaltai ao Senhor!” (kol hanneshamâ tehallel yah hallû-yah). Convocar o fôlego ou a respiração ao louvor, não é um chamado impessoal à respiração de alguém, ou a exigência de ser louvado com instrumentos de sopro — visto que diversos instrumentos de outros tipos foram alistados como aptos à adoração musical. Trata-se, sim, de uma convocação dos seres que respiram, ou seja, todos os seres vivos os quais têm fôlego. Apesar de muitos seres respirarem, o salmista faz do chamado amplo um convite cuja aplicação aponta para a humanidade. É um modo poético de convocar todos os homens à adoração, mesmo sabendo que somente os servos verdadeiros de Deus podem atender ao chamado. Entretanto, parece que ele é feito não simplesmente pensando no conjunto dos adoradores, mas na dignidade do ser adorado, merecedor do louvor dos servos, da humanidade inteira e até, se possível fosse, de toda a fauna. O fato é que todos são chamados, mas dos servos se requer como obrigatória a adoração ao criador de tudo que existe e ao redentor dos que creem em Cristo.

O caráter universal do chamado é bastante claro. Contudo, deve-se notar também o fato de ele ser atemporal, ou seja, válido a todas as épocas, o que nos inclui. Que este salmo e os demais 149 nos levem a adorar nosso Deus e proclamar sua glória e grandeza com todos os nosso recursos, habilidades e oportunidades, fazendo-nos exultar de todo coração diante daquele que nos criou, amou, salvou e há de nos receber na sua glória, onde salmodiaremos para todo sempre ao lado de todos os santos!

Pr. Thomas Tronco

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